Um pouco antes da pandemia, em um evento presencial que participei, conheci um senhor que estava exatamente no “day after” do último dia de trabalho, desfrutando despreocupadamente, do primeiro dia de sua aposentadoria como CEO de uma grande empresa multinacional.
Conversa afiada, própria de um C level, me perguntou sobre o que eu fazia profissionalmente, quando comecei a falar sobre o conceito Stressbreak, tema pelo qual ficou muito interessado.
Daí perguntei se na empresa em que trabalhou tinha algum protocolo para o “burnout”, e me disse que sim. Seguiam aqui no Brasil, o mesmo procedimento de sua matriz europeia, que consistia em afastar e hospitalizar o indivíduo, num processo de longos seis meses de sonoterapia, que ia diminuindo paulatinamente, a partir dos primeiros trinta dias.
Fiquei impressionado, e mais ainda, quando me respondeu à pergunta que lhe fiz: “E depois dos seis meses?”.
Ele respondeu: “o indivíduo volta a trabalhar em seu posto normalmente”.
Não preciso dizer como ficou minha cara, não é?
Sem chegar neste extremo, o mesmo acontece com práticas de gerenciamento do estresse proposto por muitos profissionais de saúde. Como aponta Arin N. Reeves, autor do livro: The Energy Management Guide for Women Who Are Tired of Being Tired, “O problema com muitas estratégias de autocuidado é que elas começam pelo meio. Elas não questionam se você está em uma canoa que tem um buraco enorme. Eles assumem que você continuará fazendo o que está fazendo e trabalhando do jeito que está trabalhando. As estratégias de autocuidado não funcionam porque você acordará no dia seguinte e estará cansado novamente”. Assim como o protocolo daquela multinacional.
“Não importa o quanto você durma, não importa o quanto você cuide de si mesmo, o esgotamento não vai embora porque o esgotamento está no ar que você respira todos os dias”, diz Reeves. “As estratégias de autoajuda não estão nos ajudando perguntando: o que estou fazendo é sustentável para mim?”, complementa Reeves.
Por outro lado, sempre bato na tecla de que o gerenciamento de estresse é uma atividade que requer profissionais de múltiplas atividades. E por outro lado, devem atentar ao que cada um está mais propenso a fazer para gerir seu estresse.
Dou como exemplo a prática do Mindfulness que estamos fartos de artigos científicos provando a eficácia e resultados no combate aos sintomas do estresse. No entanto, para certas pessoas, é uma verdadeira penitência ficar alguns minutos parado observando a respiração. Se queremos eficácia, temos que encontrar os instrumentos e ferramentas que efetivamente podem ajudar quem está precisando de ajuda.
Recentemente uma grande autoridade em Mindfulness me dizia que depois de muita luta por parte do RH, implementaram numa empresa sessões de Mindfulness via online. O fato que ocorria é que muitos entravam e deixavam a tela sem imagem no computador e se ausentavam para fazer outras atividades, como jantar por exemplo. Pronto, estavam cumprindo com a tabela imposta pelos chatos do RH!
Portanto, é importante alguns aspectos que devem ser seguidos para gerenciar o estresse:
- Primeiro, quem está estressado precisa saber o que é o estresse e seu funcionamento;
- O indivíduo precisa ter conhecimento dos sintomas do estresse, o que muitas vezes é atribuído à outras causas;
- Precisamos ter um diagnóstico do seu nível de estresse, o que por sinal, é subjetivo;
- Devemos priorizar os fatores estressantes para poder criar um plano de gerenciamento;
- Precisamos ter o envolvimento multidisciplinar de vários profissionais, porque na maioria das vezes um só, não dá conta;
- Fazer um plano de gerenciamento e monitoramento é fundamental, estabelecendo metas e prazos.
Desta forma, o indivíduo não ficará simplesmente esvaziando sua canoa com um balde, mas vai reparar o furo para navegar com segurança no rio da vida, o qual é repleto de corredeiras perigosas.
Cuide do seu estresse antes que vire burnout*.
Por Emerson Ciociorowski
Pesquisador do estresse e fundador do Movimento Equilibrium
*burnout aqui é definido pelo autor como o “estresse extremado”, ao contrário de uma atual corrente que conceitua o burnout como algo apenas “circunscrito ao ambiente de trabalho”.
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